19 de outubro de 2009

Quando se perde o controle

Um helicóptero abatido e oito ônibus em chamas. Roteiro perfeito para qualquer filme de ação. Essa cena poderia ser rodada em qualquer guerra civil. África? Ásia? Não, América do Sul. Mais precisamente no Rio de Janeiro, cidade que há menos de 15 dias havia sido escolhida como palco dos jogos olímpicos de 2016. Quando a cidade ainda respirava ares de prosperidade e desenvolvimento, os bandidos aparecem para relembrar que a cidade ainda tem um longo e perigoso caminho a percorrer.

A polícia sabia que haveria um confronto entre facções rivais, porém se declarou incapaz de conter o embate. Quando o Estado se diz impotente diante de qualquer situação, está na hora de uma reavaliação. O Rio de Janeiro vem afundando em violência há alguns anos. Muito por culpa de governos estaduais que sucessivamente sucatearam o aparelho policial e esqueceram-se do contexto social. Ultimamente a situação parecia melhorar, com a pacificação de algumas favelas e maior atuação da PM. Contudo esse último episódio mostrou que, embora melhor, a história continua complicada.

A grande interrogação é o futuro. Até quando o carioca silenciará diante dessas barbáries? Quando o governo se comprometerá em acabar com esses descalabros? Cada vez que uma pessoa decide não sair de casa com medo de violência ela perde um pouco da sua cidadania. O Rio, que há pouco tempo sonhava em ser cidade do futuro, acorda em um presente aterrador.


Helicóptero em chamas (Foto: Agência O Globo/Fabiano Rocha)

4 de outubro de 2009

Take it easy, my brother.


Ser unanimidade é difícil. Ser unanimidade positiva, mais ainda. Jorge Ben Jor é uma delas. E seu show é a prova irrefutável disso: centenas de pessoas das mais variadas idades e tribos juntaram-se no último sábado (03/10) para ouvir seu samba-soul-groove-africano. Muitas dessas pessoas sequer eram nascidas quando ele escreveu suas obras-primas. Mas isso é detalhe. Genialidade é eterna, não respeita barreiras temporais. É impossível não abrir um sorriso ao escutar o refrão de “Taj Mahal”. Jorge Ben, com canções escritas há décadas, é atual. É vibrante. É inspirador.

Todo vestido de branco, com sua guitarra em mãos e a Banda do Zé Pretinho no suporte, Jorge mostra uma vivacidade invejável. “Zazueira”, “Que pena”, “País Tropical”, “Fio Maravilha”, “W/Brasil”, “Mas que nada"... De tantos sucessos, seu show poderia durar 6 horas. O cantor se esforça para dar conta da maioria deles, e só consegue fazendo pout-pourris. Mesmo assim, permanece no palco por três horas. Os espectadores - que não param de dançar - se deliciam com uma história de quatro décadas, deliciosamente cantada por seu protagonista.

Não falta nada num show de Ben: cotidiano, esoterismo, futebol, mulheres - e quantas! - têm espaço nas suas letras. África, Brasil, Europa, América são sintetizados no suingue desse gênio. E ainda há tempo para relembrar outro que, segundo ele, “está no céu”: “Do Leme ao Pontal” de Tim Maia empolgou igualmente o público.

Noite inesquecível para mim. Primeira apresentação que assisti do Cara. Vai ficar pra sempre guardada. Foi magnético. Mas tudo tem seu limite! Nem me importei em fazer a pequena heresia de mudar um trecho da letra para cantar que “sou Vasco e tenho uma nega chamada Teresa”. Jorge Ben tem o grave defeito de torcer pelo rubro-negro da Gávea. Sem dúvidas, ninguém mesmo pode atingir a perfeição...




   Para a posteridade


P.S. 1: Desculpem o tom mais pessoal do post, não é o objetivo do blog, mas achei que fosse o caso. E é.

P.S. 2: Ia falar de Rio Olímpico, mas esse assunto já foi comentado por gente que entende mais. Contudo, falando de Jorge Ben, não deixo de falar do espírito carioca, que venceu em Copenhague.