7 de dezembro de 2009

O exemplo, como de costume, vem da Grécia

Estudantes protestando contra a morte de um colega pela polícia. Confronto aberto. Pedras de um lado, cassetetes de outro. A descrição, que muito bem poderia ser da afamada passeata dos 100 mil - acontecida no Rio de Janeiro em 1968 - é de uma manifestação na Grécia, em 2009. Comprovando que a história é mesmo um ciclo, nessa segunda-feira milhares de jovens gregos foram às ruas com o mesmo sentimento dos brasileiros de 41 anos atrás: descrença.

Descrença sim. Nas autoridades, no sempre vilonizado sistema, nos valores pregados, enfim: descrença. É louvável que ainda exista descrença na cabeça de um estudante. É louvável e, por que não, bonito ver estudantes descrentes pelas ruas se manifestando. Que eles enfrentem a polícia! São mais sadios do que os que permanecem em estado de letargia e inconsciência do que acontece ao redor. São mais elogiáveis que os estudantes brasileiros (eu, inclusive) - netos da geração que resistiu à ditadura, filhos da geração que pediu as Diretas e irmãos da geração que pintou as caras - que vivem um egoísmo contagiante.

Falta contestação na cabeça da maioria dos alunos brasileiros. Quem vive em um ambiente universitário sabe disso: as únicas causas que os mobilizam são as próprias. Certamente não faltam críticas a se fazer. Certamente não faltam maneiras de se criticar. O que falta é a consciência disso em um jovem que cresce em uma sociedade individual e competitiva. Estou descrente. Vou virar grego.                                                                                     

                                                                   John Kolesidis / Reuters

Em 1968, nós diriamos: "Bala não mata fome". Não sei falar grego, mas eles devem estar dizendo o mesmo.