24 de agosto de 2009

PTMDB

Podemos acreditar na política brasileira? Embora seja uma questão controversa, costumo sustentar que, sim, ainda podemos confiar em alguns de nossos homens públicos. O que ocorreu nessa última semana é um forte fator para os que pensam o contrário: o Partido dos Trabalhadores, aquele fundamental para o Brasil no início dos anos 90, acaba de assumir sua capitulação ao que há de pior na política nacional. Depois de oito anos afundando, o PT sucumbiu completamente ao fisiologismo. Enterrou o resto de prestígio que ainda tinha manobrando em prol de José Sarney. Apoiando um ex-presidente - que Lula já chamou de “grande ladrão” - em troca de mais um quadriênio de mamata.

É inegável que a administração de Lula, mesmo com inumeráveis escândalos, é satisfatória. Mas não é esse o ponto. A questão é que os princípios foram jogados no lixo. Tudo o que foi criticado na gestão FHC foi feito em escala maior: barraram CPIs que outrora seriam eles os criadores, lotearam estatais, trocaram favores em nome de um duvidoso “pragmatismo”. Seus eleitores, que acreditaram na bandeira da ética e da lisura, não enxergam mais isso nos rumos tomados.

A situação, desoladora, parece ser irrecuperável: Cristovam Buarque, Gabeira, Heloisa Helena, e, agora, Marina Silva desistiram e abandonaram a legenda desde que o partido chegou ao poder. Se os éticos estão saindo, o que imaginar dos que ficam?

É com tristeza que a sociedade constata que o PT se tornou de vez um partido comum: revogando o irrevogável em prol de governabilidade. Tornou-se um espelho do chapa branca PMDB, que o sustenta no poder.

Aos brasileiros, além de lamentar mais uma decepção, resta eleger outros partidos - e políticos - dignos de confiança. É hora de começar tudo outra vez. Buscar em quem acreditar novamente. Votar em gente séria, honrada. Eles podem não ser muitos, mas existem. É só procurar. E ano que vem é ano de procura. Intensa.


"A hipocrisia não é mais cinismo/ Eu a chamo de multilateralismo”, diz a letra dos camaradas do Móveis Coloniais de Acaju.

12 comentários:

  1. O melhor é a citação do Móveis, huauhauhahua, genial!
    Rapaz, eu me pergunto se na verdade a democracia partidária não está indo por água abaixo. No fim das contas o que nos interessa não é mais socialismo, trabalhismo, republicanismo, liberalismo e tantos "ismos" mais. Votamos em quem confiamos, e confiamos mais em pessoas do que em legendas. Talvez o modelo eleitoral brasileiro esteja ultrapassado.
    Talvez, talvez, talvez. Enquanto isso, fidelidade partidária para todos e que se fodam os idealistas.
    Abração!

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  2. Rapaz, todo meu texto se fez a partir desses dois versos. Eu tinha que encaixá-los em algum lugar! Eles são geniais.

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  3. "Talvez o modelo eleitoral brasileiro esteja ultrapassado."

    O modelo eleitoral brasileiro é tosco e voltado para eleger corruptos.

    Além do voto ser obrigatório, a legenda é obrigatória para se eleger, o tamanho do partido influencia no peso do voto e a cereja do "sundae" é a legenda de um político ser mais importante do que ele como político individualmente.

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  4. Mateus, adorei o site! Vou comentar sempre! Falando nisso, discordo do cometário de cima. Perceber que o sistema eleitoral adotado, principalmente o modelo de lista fechada, tem em seu fundamento a corrupção no sentido de perpetuar o poder de uma camada bem exclusiva da sociedade é fácil. Quanto ao voto ser obrigatório já não vejo como aspecto exclusivamente negativo. Na teoria seria antidemocrático, entendo, porém aplicado a um país como o Brasil que infelizmente não goza de um eleitorado consciente e ativo talvez seja uma fortma de evitar que minorias elejam por um páis inteiro. Lembrando que não é do interesse do atual governo conscientizar o povo a ter um pensamento cívico. Desejamos que isso mude com a reforma eleitoral. Depois, quem sabe, o voto seja uma opção.

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  5. por favor, liste as estatais 'loteadas' pelo governo Lula.
    Obrigado.

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  6. Bem que fui avisado. Detratores se apegam em detalhes para criticar, sempre anônimamente.


    Não creio que seja o caso, mas vamos lá:

    http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,jarbas-quer-projeto-contra-indicacoes-politicas-para-estatais,330371,0.htm


    http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=12554

    Penso que esses dois textos, de visões políticas diametralmente opostas, possam esclarecer. O segundo, inclusive, conta com a lista pedida.

    Atenciosamente,
    Mateus Campos

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  7. O título já diz tudo sobre o que você expressa tão bem no texto. Infelizmente esse é o quadro político do Brasil . Concordo inteiramente que não devemos nos omitir temos que continuar tentando, ainda existe gente digna na política, e para os que não acreditam nisso, temos pelo menos, os menos piores.

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  8. Pois é, Matheus. A crítica é bem feita.Não podemos perder a capacidade de se indignar perante as imperfeições humanas - a honra, o respeito, a ética... Temos, a cada dia, que tentar melhorar este ser - humano -, que é imperfeito, em todas as áreas da nossa vida, inclusive na politica partidaria. Abraços.

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  9. Se as peripércias de Jarbas fossem algo exclusivo desse governo eu até concordaria com a fonte de extrema de extrema direita paulista exposta por vc.
    Quanto ao segundo tópico, aprenda a diferenciar 'loteamento' e 'ato de fazer política'. Não existe um Governo Democrático do Eu Sozinho, e é sim necessário repartir ministérios entre os maiores e mais importantes partidos do Brasil (PT e PMDB). A respeito das estatais, o GOVERNO continua sendo soberano sobre elas, e não é porque a direção de uma ou outra está nas mãos de Fulano ou Beltrano que isso significa que o PMDB controla as estatais e a mão de obra desse país.

    Atenciosamente,
    Dilma_2010

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  10. No texto eu deixei claro que o loteamento não é invenção do governo Lula. É óbvio que era prática em governos anteriores. Só disse que não esperava isso em grande escala de uma governança petista.
    Outro problema é que "Ato de fazer política" é ambíguo é dá margem para apadrinhamento e cabide de empregos, o que, convenhamos, só é benéfico para a estrutura falida e viciada do Estado.
    Enfim, não acho ético. É prática, de fato. Mas não é certo. E jamais aceitarei isso como algo comum e necessário.

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  11. Matheus, eu também "seria de esquerda se ainda existisse"...rs!! HEHehHEHe...

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  12. Para com isso gente, existe esquerda sim.

    Como diz o genial slogan do não-tão-genial PC do B em seu site: "Nem toda a mídia é marrom".

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